"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ninho vazio

 *Ricardo Carvalho


Quando os filhos são pequenos, a necessidade de companhia ou brincadeiras é uma constante. A verdade é que nem sempre estamos dispostos em virtude dos afazeres diários. A curta frase, em alguns momentos, é dita: - “Sai pra lá...”. O tempo passa e, gradativamente, o que parecia tranquilo, controlado, sofre um abalo. Num curto espaço, em virtude do crescimento ou distanciamento dos filhos, dizemos: - “Vem pra cá...”.Camas, almas ou o ninho vazio têm o poder de entristecer quem, até então, não tinha entrado em contato com o “produtivo sofrimento”. Parece que o verbo crescer, tão importante em relação aos filhos, é também sinônimo de dor. Objetivos, metas traçadas e, num belo ou triste dia, ocorre a separação. Curso numa outra cidade, estado ou país, namorado (a) ou casamento, trabalho, intercâmbio, entre outros, fazem com que a sensação de impotência diante da adversidade seja inalterável. Desta forma, as fantasias dos pais de serem desprezíveis, sem valor, são terríveis. Esquecem geralmente que os dados de realidade ou o tempo dos filhos, no “auge da vida”, são substancialmente diferentes. Querendo, gostando ou não, às vezes, nem uma ligação é possível. O telefone, computador e os seus e-mails, são ferramentas modernas úteis que aproximam virtualmente, porém, não tem cheiro, pele, abraço, beijo... Desagradável e óbvia constatação de que a tecnologia ainda não está tão perfeita como gostaríamos. Pobres pais, pobres filhos.Preocupados com o calendário e o relógio, os progenitores passam a controlar os segundos em função de um possível feriadão, para se “alimentarem dos filhos”. Estes, por sua vez, com a mesma carência afetiva, se encontram no limite da saudade. Os instrumentos citados com os seus meses, dias e ponteiros malvados são implacáveis.  Rapidamente, aquilo que era motivo de alegria para ambas as partes, vira uma nova nascente de dor e lágrimas. Carro, ônibus, avião, levam a alegria novamente e deixam lacunas, somente lacunas. O bônus do tempo que propiciou a união teve um ônus. Triste ciclo estabelecido.Solução perfeita não existe, essa é a vida. Porém, felizes são os pais que observam um resultado natural e esperado ao longo de um desenvolvimento. Hora de o casal reformular pensamentos e comportamentos. Ficar fixado unicamente no abismo da distância de nada adianta no combate à solidão. Os vários papéis centrados exclusivamente nas vidas dos filhos precisam ser substituídos, construindo assim, novas fontes de felicidade. A angústia pela proximidade da velhice, associada à ruptura no que tange aos filhos, deve ser alterada por pontos comuns derivados do incremento dos diálogos entre o casal, que impliquem em viver ao máximo a vida no aqui e no agora. Viagens, passeios, grupos, academia, artesanato etc., são favorecedores de caminhos diferenciados extremamente positivos nesse sentido. Percepções que mais pessoas estão no mesmo barco ajudam muito, sendo altamente terapêuticas. Em suma, um REFAZER a dois é algo imperativo...



Colunista
* Ricardo Farias Carvalho
Psicólogo com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia para adolescentes e adultos e 
colunista do Jornal Agora (Caderno AGORINHA) e do blog do Alfaro (www.blogdoalfaro.com.br)
Consultório: Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 -Rio Grande- RS– 
Tel: (53) 3232-4677 e 9162-9292 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.



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