"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




domingo, 28 de agosto de 2016

O ser invisível

"Sempre existirá algum momento da vida em que você se percebe como um "ser invisível". Se alguém negar essa afirmativa é porque naquele episódio foi imperceptível a si mesmo, tanto que nem notou o quanto não era visto pelos outros. 
O centro de interesses das pessoas que não o(a) incluem e que , mesmo sem intenção, desprezam completamente a sua pessoa. Porém, você continua ali semelhante a uma estátua fria e paralisada, a quem nem os olhares lhe direcionam. 
Sorte sua se você estiver calado, porque falar para um grupo que não lhe escuta ou vira a cabeça somente por causa do ruído de sua voz é deprimente.
Já observei várias situações em que as pessoas não incluem a todas na conversa e não significa fazer uma determinada pessoa falar (se o desejo dela é só ouvir), mas dirigir o olhar, fazer-lhe uma pergunta, sorrir para ela. 
Quando se percebe nitidamente que alguém está isolado, porque não tem opinião a respeito do assunto tratado ou porque não gosta de discutir, o simples olhar durante a fala é uma forma de incluí-la na conversa.  Isso é socializar.
Essa exclusão discreta que transforma a pessoa neste "ser invisível" é frequente com idosos ou pré-adolescentes numa roda de conversa. O primeiro é excluído e o segundo se exclui, com aquele ar de pouco caso.
O que ocorre é que devemos nos educar para a nossa inclusão e para a dos outros. 
Fazer caras e bocas ou se mostrar indiferente é se sentir superior. Achar que o idoso não pode acompanhar uma conversa porque está desatualizado é menosprezar sua inteligência e experiência. Em ambos, os casos é ignorância. 

domingo, 21 de agosto de 2016

Talentosos que se perderam

Outro dia vi a oferta de um curso de desenho de croquis de moda e logo lembrei de uma colega de escola, franzininha, humilde, chamada por todos de Mariazinha. Pois bem, ela desenhava croquis femininos maravilhosos, As modelos eram altas e magras com uma bonita silhueta e apresentavam a moda social e chique. A dúvida era de onde ela tirava aquele traçado e aquele dom estilista? Se nem do espelho era. E vieram a minha lembrança também os outros talentos: a portuguesa Sofia que declamava poesia, a poeta Sérgio que misturava as palavras e criava lindos poemas, e tantos outros.
Vai saber onde andam? O que foi feito dos seus dons?
Quantos guardaram na gaveta da recordações mas na continuidade da vida se perderam para sempre?
Devíamos dar mais atenção a essas preciosidades que vem de "antes", que nem curso precisa porque já tem uma técnica aperfeiçoada. O que vem da natureza nem sempre é para toda a vida, porque a própria existência pode colocar barreiras de preconceito, desprezo e anulação.
Prestai mais atenção a tudo que vem sem chamado.

sábado, 20 de agosto de 2016

Universo virtual

No século XXI, você pode habitar o planeta Terra, mas se não estiver incluso no universo virtual, há a possibilidade de tratar-se de uma pseudo-existência.  É desta maneira que são interpretadas as pessoas que fogem das redes sociais. Elas evitam aparecer , mas é quase impossível que em algum momento não sejam flagradas.
Você pode relutar, resistir, negar ou desviar-se, até o momento crucial que alguém fotografe o público e, sem querer, sua pessoa aparece em foco. A partir daí todo restante do mundo lhe encontrará facilmente. Se tiver seu nome em algum lugar logo constará na pesquisa do Google.
Há pessoas que não participaram das redes sociais e faleceram, então seus amigos muito entristecidos postam o horário do enterro ou da missa de 7º dia com a foto do falecido. Não adiantou tanta resistência ao mundo virtual, inserido no último minuto.
Sem levar em conta a ressurreição - a partir daí a viúva, os amigos dão vida ao falecido. Ele aparece no jogo clássico de futebol, num passeio no fim de semana, no sofá da sala. Aquele que nem era lembrado agora está mais vivo do que nunca.
O interessante é que para muitos não basta estar numa só rede, nem mesmo se for a mais acessada. Para "existir" de fato tem que aparecer as postagens no Facebook, no Instagran, no WhatsApp, Linkedin, no Twitter, etc. Sem esquecer de atualizá-las com uma foto ou frase do dia, de frente, de costas e de perfil.
Aquela célebre frase " o cara morreu e esqueceram de avisá-lo" está valendo.
Se não quiser aparecer no mundo virtual não peça para nascer.