"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




sábado, 19 de maio de 2012

FRENTE e FUNDOS

Av. Presidente Vargas (atual)
Era um qualquer dia de 1987. Passei de carro pela frente de um condomínio na entrada da cidade.
O nome já me chamou a atenção: "Morada do Parque". Entrei e admirei as oito casas térreas e depois, os 17 sobrados. Todos foram pintados com a mesma cor: bege com duas faixas (superior e inferior) em verde, cores residenciais que estavam em moda naquele ano.
Os imóveis tinham apenas dois dormitórios,um banheiro,uma sala-varanda grande, uma cozinha  pequena, a garagem era aberta e um pátio bom com um muro baixinho.



Foto da entrada do condomínio em 1987
A sala tinha um janelão todo envidraçado, além de uma janela lateral que iluminava naturalmente todo o ambiente.
Da janela do quarto menor, nos fundos, via-se uma chácara enorme com plantações de alface, salsa, couve, beterraba e outros legumes.Um senhor curvado colhia as verduras.
O banheiro era clarinho, fora recém instalado. As paredes eram pintadas de branco com as portas em verniz escuro.



Vista para a chácara
                                               
Uma janelinha pequena mantinha a iluminação na escada, que não possuía corrimão ainda.
Da janela do quarto maior via-se a rua interna do condomínio com crianças brincando à vontade.
Adiante tinha cimento e restos de obra. Pedreiros transitavam com pás, baldes e outros  instrumentos de trabalho.
O pátio não tinha piso, só muito aterro.
Foto aproximada do final do condomínio (atual)


Olhando-se para a direita, avistava-se somente um extenso terreno, sem construções e que acabava nas margens do Saco da Mangueira (enseada ligada ao estuário da Lagoa dos Patos).

Para a esquerda, via-se os sobrados novos, com jardins floridos ou alguns arbustos e as casas térreas.
 Um senhor chamado Zé, se apresentou como o chefe de obras e morador da casa em frente.
Muito ansiosa perguntei-lhe se havia algum sobrado à venda. Para minha surpresa, no momento, somente o último sobrado.

O construtor não dispunha de muitos recursos para realizar as obras, portanto usava o dinheiro
das vendas na construção de outras unidades e no pagamento dos trabalhadores. Imaginem,então, qual foi a minha próxima pergunta.
A segunda surpresa aconteceu: o valor aproximava-se do imóvel que eu tinha - um apartamento com  dois quartos, com linda sacada, em área central.
Sai dali fora do ar, já fiquei imaginando meus filhos, na época  com um pouco mais de 1 e 4 anos, brincando com outras crianças, na rua, no pátio; poderia comprar as verduras e legumes sem agrotóxico na chácara, a garagem para o carro junto a casa, a vista bonita, a tranquilidade...
Mas agora era preciso convencer meu marido, vender o apartamento, depois fazer a mudança, ... será que tudo ia sair como eu esperava?
Uma coisa era certa : não podia perder essa oportunidade! Foram inúmeros argumentos e o marido eu convenci. O mais difícil era vender o imóvel para um comprador com todo o dinheiro.
Então,eu mesma providenciei a placa: VENDE-SE. Avisei para todo mundo e convoquei meu pai, que era um ótimo negociador para nos ajudar a vender e a negociar o sobrado.
Passaram-se dias e dias e nada. Apareciam pessoas interessadas mas precisavam financiar ou queriam dar um carro + terreno+cachorro+periquito+papagaio,etc .Estava desanimando, mas não perdia a esperança.
Uma tarde tocou o interfone, era um casal de idosos, o seu Manoel e sua esposa. Eles viram todo o apartamento, planejaram reformas e ele fez várias perguntas. Sem levar muita fé, disse-lhe o valor. Ele consultou a esposa e disse,em seguida: Vamos ficar com o apartamento. Quando podemos ir ao cartório e como querem o pagamento?

O quê? Quase desmaiei.

Telefonei, imediatamente, para o marido e avisei que um senhor endoidou, queria comprar nosso apartamento, sem pedir abatimento, sem financiar e já falava em acertar até o dia do pagamento. Não pode ser verdade?- sussurrei ao telefone.

Foto do sobrado em 1987
Dias depois, nós estávamos felizes fazendo a mudança para a casa nova.
Coisas do destino, sei lá!



Meus filhos brincando no novo endereço 

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