"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




domingo, 3 de junho de 2012

Calma

Não sei se acontece com todo mundo, mas, às vezes, quando estamos muito agitados, ansiosos, ocorrem  fatos que nos estabilizam por alguns segundos. É como se alguém pegasse nosso braço e dissesse: Calma! Associo a isso, quando passo por uma porta e o trinco prende na manga da roupa, não consigo dar um passo a mais. Em outras, é algo que cai ou entra num lugar inusitado, daqueles que mesmo com tamanha habilidade, dificilmente se conseguiria colocar.
E quando fecha-se toda a casa e vem uma lembrança: será que...? Então, na dúvida, volta-se, abre-se as fechaduras, passa-se por todas as portas e conclui-se : eu, realmente, tinha feito. A pressa era tanta que foi realizado automaticamente,sem prestar a devida atenção.
 E o remédio no café da manhã, por exemplo? Será que tomei? Não tomei? Imagina quanto tempo ficamos parados pensando: E agora, o que faço?
E a anotação? Você fica um baita tempo anotando tudo que vai precisar, se organiza para ser rápido, depois chega no local e descobre que não trouxe a lista. Daí vai tentando vagarosamente lembrar o que escreveu no papelzinho. Cadê aquela pressa toda?
E quando se escolhe o caixa com menos compradores. Vai sair dali, rapidinho. Engano, seu. Dá um probleminha e você fica um tempão olhando as outras filas andarem rapidinho e o seu amigo abanar dando "tchauzinho" debochadamente. Isso quando você não tem a infeliz ideia de trocar de caixa. Os outros começam a andar, inclusive as pessoas da fila que você estava e a sua, simplesmente, estagnou e só lhe resta aceitar.
Tem aquele negócio que só dependia de um telefonema e você verifica que a bateria do celular acabou, está na hora de encontrar alguém que marcou de lhe esperar, a sinaleira fechou e adiante há um desvio por obras que lhe mudará todo o trajeto, o estacionamento é pago e você só tem cédulas quando precisava de moedas. Se estivesse a pé teria resolvido tudo.
Uma vez fiquei com vontade de soquear aqueles sacos de areia. Fiz um trabalho da faculdade com todo o zelo, na hora de imprimir acabou a tinta da impressora, troquei o cartucho, juntei tudo, corri para a parada do ônibus. O ônibus ia passando quando o avistei na saída de casa.Esperei o próximo. Subi,corri para a sala de aula e entreguei o trabalho com a sensação do dever cumprido, quando a professora disse: quem não trouxe hoje, não tem problema, entregue a semana que vem. Foi nesta hora que tive vontade de soquear...o saco de areia.     
Outra vez, era criança, uns 9 anos, a professora de Educação Física era muito braba, mas tinha uma coisa que eu adorava nela: sempre escolhia alguém para colaborar na aula, esse se escapava de realizar a ginástica e era o seu ajudante. Eu era tímida e não leva muita chance, jamais iria me escolher. Pensei estrategicamente: quando ela perguntar, vou responder logo. Enchi-me da tal coragem e esperei pela pergunta, eu estava lá  no finalzinho da fila única. Não demorou muito, ouvi seus gritos: Quem é que quer? Não hesitei, rapidamente, respondi: Eu, professora! Foi quando vi os olhos de espanto dos meus colegas e a voz grossa da professora: Ah, engraçadinha, tu queres ir pra secretaria, é?!!!


Obs A partir deste dia comecei a treinar a calma. Ainda não acabei o treinamento. 

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