"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




domingo, 29 de abril de 2012

Recordações do tempo de escola

                                                                              *Maria do Carmo O.  Monteiro

Desfile da "Mocidade" do I.E.Juvenal Miller-1942
                                                                                  
                       Os adultos, ou talvez, idosos tem o que recordar (até com saudade) das suas lembranças escolares da infância. Alguns relembram com um compreensível desprezo da temida palmatória (objeto de madeira que servia para bater na palma das mãos dos alunos mal comportados ou os que não estudavam) e dos grãos de milho atrás da porta da sala de aula ( onde eles ficavam ajoelhados por castigo). Ficar de nariz para a parede ou receber orelhas grandes (semelhantes as do burro) eram outras formas de castigo para quem não seguia regras ou não aprendia as lições. Havia também a fila dos inteligentes e dos (...).
                        Falar demais merecia o castigo de escrever 20, 30, 50 ou cem vezes: “Não devo conversar durante a aula!”. O número de cópias dependia do estado emocional dos professores na hora de ordenar o castigo
                        Levantar da cadeira quando chegasse a diretora ou outra autoridade era uma regra inviolável. Além destas recordações, há também aquelas que representam uma época ou que demonstram a chegada da modernidade. No tempo das canetas-tinteiro era necessário um orifício na mesa para acomodar os tinteiros e um mata-borrão (folhas de papelão poroso que eram usadas para absorver os excessos de tinta). As lancheiras, pastas de couro e os estojos de madeira foram especialmente criados para a classe estudantil. Os uniformes eram um “tchan”: meninos usavam calças curtas, só os jovens podiam usar calças compridas igual aos adultos. As meninas apresentavam-se de saias em pregas, de gravatinha ou laço e meias bem brancas (isso quando a graxa do sapato colegial ou um ponta-pé de uma colega não sujava ) e fitas brancas no cabelo. As aulas de educação física revelavam as pernas roxas de frio das meninas e ainda  escondidas em calções folgados, franzidos e pretos.
Estudar matemática exigia o uso de um papel quadriculado, onde os números eram escritos ordenadamente. As ilustrações eram traçadas na folha de papel-jornal e as pesquisas e composições (= redações) feitas na folha de almaço.
 Aprender a contar significava também decorar toda a tabuada, inclusive fazer o cálculo dos noves-fora e da prova real. Os exames eram, em geral, orais. (Só o olhar da professora já dava um “branco”!) 
 Letra bonita se adquiria escrevendo infinitas vezes no caderno de caligrafia. Para colar usava-se uma “gororoba” de farinha ou a goma arábica (encontrada há bem pouco tempo nos correios). A famosa cola “Tenaz” veio mais tarde, como uma supercola.
Os erros eram apagados com borrachas para lápis  ou caneta. Nos dias atuais a excelência é o corretivo líquido (ex:Error-ex)  ou de outras marcas que apagam, mas também riscam tudo nas mãos dos adolescentes.
Faltar à aula ou perder uma matéria tinha que ser copiado sem pena, coisa resolvida rapidamente com a moderna máquina copiadora.
            O capricho significava entre outras coisas: não formar orelhinhas no caderno. Os exercícios de aula eram feitos no bloco de rascunho; a matéria nova e o tema de casa, posteriormente, passados a limpo em outros cadernos.
             Para ajudar os estudantes sem habilidade a desenhar surgiram as “figurinhas de passar” que umedecidas decoravam as folhas do caderno e nunca mais saiam. Para os   estudantes “bem-aventurados(=$)” surgiu o famoso “Desenhocop”-um livro com vários desenhos de datas comemorativas, vultos famosos, mapas, etc. que riscava-se com o lápis preto e  o desenho aparecia(magicamente) na folha. Um show!! Os mais humildes eram obrigados a se contentar com o recurso do papel de pão, de seda ou do carbono para copiar desenhos.
            Os lápis de cera coloriam bem, mas borravam muito os desenhos menores, já os lápis da “Johhann Faber’ colaboraram muito neste sentido. As canetinhas surgiram para revolucionar, já era possível “tornear” o desenho e depois pintá-lo com os lápis coloridos.
            O olfato das crianças era estimulado pelo cheiro do “caderno novo”.    
            O sino marcava o início às aulas, hoje substituído pela sirene programada.
            O quadro de giz era preto e de um lado tinha linhas, no canto o mapa do Brasil e um espaço para as notas musicais, muito usadas nos ensaios do coral. Hoje temos o quadro branco ou a lousa interativa.
            A  semana da Pátria tinha o ritual do hasteamento da bandeira e o canto do hino,  com muito respeito, agora ainda se mantem, mas tem uma performance diferente.  As aulas de latim, os sonetos,... tudo isso ficou na lembrança dos estudantes de outras épocas...
Contudo a escola continua ...Quais as lembranças da escola que ficarão, agora?


Obs: Publicado no Jornal Agora em 13 de outubro de 2004- Coluna: Agorinha Mesmo 

5 comentários:

  1. Esqueci na época de comentar sobre os livros,que os pais tinham que adquirir e eram caros. Agora os alunos ganham 6 livros e não dão valor. A merenda também,hoje eles ganham uma farta e gostosa merenda.
    Tantas facilidades e mesmo assim os alunos não estão motivados. Daí vamos ao teu texto é preciso mudar tanto as relações quanto a metodologia. Todos somos responsáveis para uma educação realmente de qualidade.

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  2. Como foi bon lembar do desenhocop, das canetinhas hidrocores, das borrachinhas com formato de frutinhas e muito mais... fiz uma viagem no tempo. Adorei o texto.

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  3. Viajar assim é exercício para a memória e alimento para o coração. Abraços

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  4. Teresa Marchione de Souza-
    Acabei de ler o texto " Recordações do tempo de escola"...foi uma viagem no tempo mesmo, cheguei a ler em voz alta para o caco ouvir...que saudades da minha infância, da minha escola, das minhas canetinhas hidrocor e da D Germana, professora de musica que trazia seu "mini piano" para as aulas, ehehehe era muito legal!!!!!! É uma pena que o tempo passa, mas que bom que textos tão bom de ler nos faz voltar até a sentir o cheiro do passado!
    domingo às 22:09 ·
    Publicado no Facebook, dia 29/04/2012

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  5. Cleusa Cruz Ozorio, Ana Marlizene Oleiro Vaz, Márcia Tanus e outras 3 pessoas curtiram isso.

    Publicado no Facebook,dia 29/04/2012

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