"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




quinta-feira, 26 de abril de 2012

Passeio e lembranças


Foto: Amannda Oliveira

Hoje, fiz um passeio pela feira livre em Pernambuco com uma amiga que me mostrou a variedade de produtos oferecidos por lá. Frutas, legumes, doces, ferragens, chapéus, roupas, calçados, vassouras, cordas, gaiolas, piranhas para o cabelo, lampiões, ratoeiras, mosquiteiros, etc. Realmente tem de tudo  nas feiras, é quase um supermercado ao ar livre.
Neste passeio, algumas coisas me trouxeram a lembrança da infância: caminhões de madeira, bolinhas de gude e bonecas de pano. Esses brinquedos eram tão simples que nem se comparam aos movidos a pilhas, bateria ou eletrônicos que hoje as crianças ganham de presente.
Foto: Amannda Oliveira
Eles tinham um colorido que chamava a atenção, mas o que mais impressionava era o que a própria simplicidade despertava:  a imaginação infantil. Era preciso sonhar, criar cenas na nossa mente que estavam além do brinquedo. Puxar um carrinho e fazê-lo subir uma rampa ou dobrar uma esquina despendia habilidades no trajeto e uma direção defensiva para não causar acidentes. 
A bolinha de gude era um jogo de rua que juntava vários meninos e uma disputa acirrada em aumentar o patrimônio.
As bonecas eram o ensaio maternal das meninas. Era necessário amá-las, além do cuidado. Na nossa imaginação cada boneca tinha sua personalidade e sua história. Lembro que tive algumas somente, mas, entre elas, tinha uma muito pequeninha, a menor de todas e que tinha perdido os olhinhos. Para mim ela era muito carente e por causa disso precisava de muito carinho. Era,sem dúvida, a minha protegida. As outras eram normais. Aos oito anos ganhei a minha última boneca: a Beijoca, a maior, a mais bela e a mais moderna, ao fechar os seus bracinhos, ela dava um beijo estalado. A Beijoca era a mais cobiçada entre minhas amigas. Brinquei bem pouco com ela, pois uns anos depois já começaram a despertar em nós outros interesses e brincar de boneca já não surtia tanta imaginação. É assim que a gente vai,  discretamente, abandonando a infância e amadurecendo. Sem perceber deixamos de sonhar com nossos brinquedos. 

A Beijoca e eu (1969)


Obs:  O passeio pela Feira Livre de Pernambuco foi apenas virtual, acompanhando as fotos da Amannda Oliveira, uma amiga do Facebook e da blogosfera. Estou em Rio Grande-RS.