"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




quarta-feira, 25 de julho de 2012

Escola :passaram-se 50 anos



Recebi essa mensagem por e-mail e como professora e pedagoga não posso deixar de comentá-la. Não digo isso no sentido de: dona da verdade, mas porque, além da formação, atuo na educação pública há 32 anos e somando a isso minha vida de estudante começou em 1967 e permaneço neste meio até hoje. Costumo brincar dizendo que a escola me pegou e não consigo sair dela.
Observando o comparativo acima vê-se que em meados dos anos 60 a cobrança dos pais por melhores notas recaia sobre o aluno, ele era o único responsável pela falta de aprendizagem. Nota-se o aluno deprimido e os pais xingando-o. Ao contrário, nos dias atuais, a não-aprovação de um aluno na visão dos seus responsáveis recai agora, exclusivamente, na falta de competência dos seus professores ou da escola. O aluno está ali de braços cruzados, alheio.
Na minha opinião,em ambas épocas, há interpretações erradas das causas desta reprovação. Há 50 anos atrás não se levava em conta as condições deste aluno para o aprendizado, todos eram vistos como iguais e o ensino como um repasse de conhecimentos. Os mais inteligentes aprendiam, os demais estavam condenados à reprovação. Os alunos com necessidades especiais, estes nem na rua saiam. Alguns aprenderam com professores particulares dentro de suas casas, escondidos do mundo.
Outros passaram suas vidas convencidos de que tinham muitas dificuldades para aprender e que por isso jamais aprenderiam. Quanto aos professores, estes eram "mestres", um livro ambulante, de tudo deveriam saber. Alguns acreditavam nisso e usavam da ditadura escolar para intimidar seus alunos. Os bons professores esses jamais serão esquecidos, provocavam nos estudantes o gosto pelo saber. Nesse tempo também existia a presença da família na escola, mesmo daquela pouco-letrada. Os livros eram muito valorizados e custavam caro aos pais.Um filho estudando era motivo de orgulho.
O tempo passou. Novas teorias sobre as metodologias, a psicologia, a própria pedagogia surgiram.
Agora, entende-se que a escola é um conjunto de condições e que seus alunos são pessoas diferentes e em situações também diversas. Os recursos didáticos estão melhores, alguns investimentos foram feitos,o acesso a todos está facilitado, mas a educação ainda é para poucos. Sim, falo na educação de qualidade,  de quem aprende para ser útil à sociedade, para fazer um mundo melhor, para o bem. Não restrito ao mercado enquanto um ser funcional e produtivo, que garanta mais lucros às grandes empresas.
A maioria dos pais afastaram da escola, relegaram suas funções de apoio e acompanhamento dos filhos a outras pessoas - os responsáveis (parentes, companheiros, etc). Esqueceram que são muito importantes neste processo e perceberam que envolver-se dá muito trabalho. Os valores pessoais são outros.
Se houvesse interesse na qualidade, os trabalhadores em educação seriam os mais bem remunerados profissionalmente, as condições de trabalho seriam melhores, com maior acesso à tecnologia, porque conhecimento, não se resume à notas nem à aprovação e reprovação, isso é uma norma regulamentar de certificação, necessária e consequente. Na minha visão, aluno aprovado é aquele que sabe além do que aprendeu, é capaz de buscar e gerar outros conhecimentos e aplicá-los,  na sua vida e, generosamente, no meio social em que vive.
Se você não souber aplicar o que sabe, você na verdade, não sabe nada.Então, que notas são estas?




(O e-mail foi uma colaboração do meu amigo e primo Dilson Nunes. Obrigada!)

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