Chove bastante essa noite, então lembrei-me de uma história que aconteceu há muito tempo, quando os donos de armazéns de nossa cidade recebiam na madrugada o leite que vinha da campanha.
Numa noite de inverno caia um temporal muito forte, mas os peões tinham a responsabilidade de abastecer estes armazéns independente das condições climáticas. E é aí que começa essa história...
Por volta de 1920, um cidadão rio-grandino ouviu, atentamente, o relato dos peões que enfrentaram muitas dificuldades para transportar o leite no caminhão por causa da chuva e do vento forte. Ele tinha o dom de transformar tudo o que ouvia em versos rimados. Ao final do relato, ele recontou todas a façanha em rimas e, desta maneira, eternizou o acontecimento até hoje.
A história é real, o poeta era militar do Exército, conhecido por Sargento Cabral.
Meu pai me contou, eu aprendi e, agora, repasso a vocês.
Autor: Sargento Cabral (1920)
O temporal já vinha perto
quando partimos pra cidade.
O caminhão era de fato
para resistir a tempestade
Muita areia, bastante água
impedia o caminhão
Marcha ré demos bastante
até soco e empurrão
Mais nós tínhamos muita sorte
que parecia divindade
Encontramos com dois guascas
que vinham aqui pra cidade
Aì começou o serviço
Com muita precaução
Um puxou do bicho
E o outro... caiu no chão
Caiu no chão...
Olhando sempre para o céu
Debatendo-se contra as águas
em busca de seu chapéu
E pra acabar
com essa joça
O leite foi conduzido
Dentro de uma carroça