"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




sábado, 6 de julho de 2013

Adaptação ao momento

Li um poema de autora desconhecida postado na rede social sobre as mudanças que um filho pequeno faz na vida da mãe e o significado disso,  o qual transcrevo ao final deste post.
Como seria o mesmo poema em relação ao filho que cresceu e os pais que envelheceram?
Vejamos:

Um filho é                      

o cabelo branco tingido                                  
a ruga dos olhos
o álbum antigo de fotografias
a poupança guardada
o motorista de plantão                               o chazinho esfriando
o compromisso transferido
a visita cancelada
a providencia desnecessária
a previsão do tempo atualizada
a porta sempre aberta
a conta grande do telefone
a eterna preocupação
o plano de saúde "ainda" familiar
a lembrança
o quarto vazio
a saudade
a espera...
a compensação: a visita
o ciclo que se renova
com a alegria dos netos...

(Veja o texto original abaixo.)

Um filho

Ele é o nó no meu cabelo.
O esmalte descascado na minha unha,
as olheiras no meu rosto.
Ele é o brinquedo na gaveta de roupas,
o amassado nas páginas do meu livro,
o rasgado no meu caderno de anotações.
Ele é o melado no controle remoto,
o canal de televisão,
o filme no DVD.
Ele é o farelo no sofá,
As tesouras no alto.
Ele é a marca de mão nos móveis,
o embaçado nos vidros,
o desfiado nos tecidos.
a gaveta da cômoda aberta.
Ele é o coque na minha cabeça,
o amarrotado nas roupas,
as frutas fora da fruteira,
os panos de prato amarrando os armários.
Ele é o meu shampoo cheio de água,
a espuma no chão do banheiro,
o brinquedo dentro da privada.
Ele é o interruptor nas tomadas.
Ele é o peixe no aquário,
a árvore de natal,
os "pisca-pisca" de todas as casas.
Ele é o círculo, o susto....
A primeira visão da lua no começo da noite....
O valor do trabalho, a vontade de aprender,
a minha força,
a minha fraqueza,
a minha riqueza.
Ele é o aperto no meu peito diante de uma escada,
a ausência de sono diante de uma febre.
Ele é o meu impulso, o meu reflexo, a minha velocidade.
O cheirinho no meu travesseiro,
o barulho,
a metade,
o azul.
Ele é o vazio triste no silêncio de dormir,
o meu sono leve durante a noite.
Ele é o meu ouvido aguçado enquanto durmo.
A minha pressa de levantar da cama,
a minha espera de bom dia.
Ele é o arrepio quando me chama,
a paz quando me abraça,
a emoção quando me olha.
Ele é meu cuidado, a minha fé,
o meu interesse pela vida,
a minha admiração pelas crianças,
o meu respeito pelas pessoas,
o meu amor por Deus.
É o meu ontem,
o meu hoje,
o meu amanhã.
Ele é a vontade,
a inspiração,
a poesia.
A lição, o dever.
Ele é a presença, a surpresa
a esperança.
A minha dedicação.
A minha oração.
A minha gratidão.
O meu amor mais puro e bonito.
A minha vida!



4 comentários:

  1. Bela poesia! Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

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  2. É bem assim mesmo... coloquei esse texto no meu face há uns dias atrás... um filho é tudo isso e mais um pouco.

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  3. NÓ NO CABELO, dos mais belos textos que li e ninguém conhece a autoria?

    Vera Maria Sangiorgi

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