"Caso o cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele,

reclame de si mesmo que não é poeta o bastante

para evocar as suas riquezas."


Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta.Porto Alegre: L&PM,2006.p.26




sexta-feira, 28 de junho de 2013

Padrinhos e o batismo

"Ser padrinho" é, ao meu ver, um tema longo e polêmico. Toda vez que uma mulher engravida logo vem a pergunta: quem escolherás para padrinhos do teu(tua) filho(a)?
Primeiro a de se perguntar aos pais o que pensam sobre os encaminhamentos religiosos que darão a essa criança, principalmente se estes possuem orientações diferentes. 
O batismo é um sacramento cristão utilizado com frequência na igreja católica e evangélicas, mas em formatos um pouco diferentes.
No batizado católico é necessário que sejam escolhidos os padrinhos que farão o ritual do batismo acompanhados do padre e dos pais da criança. A partir daí, os padrinhos passam oficialmente a ser também responsáveis pela boa orientação religiosa e acompanhamento da vida do(a) afilhado(a) zelando por ele(a) em todos os sentidos. Caso, mais tarde, os pais não possam cumprir com suas responsabilidades  os padrinhos ficarão como substitutos destes, por isso a grande necessidade de acompanhar a vida do afilhado desde o começo. Assim é o propósito do batismo como orientador religioso da criança e aos padrinhos como co-responsáveis na vida do afilhado, mas na prática não é tão simples assim.
No período de gestação da criança há sempre parentes ou pessoas amigas que criam expectativas pelo ser em formação  e são os que se envolvem mais nesta ocasião que, consequentemente, são escolhidos para a árdua função.
Há os que ficam imensamente felizes pelo convite, os que aceitam por sentirem-se uteis e outros por obrigação. Alguns já se sentem responsáveis e participam intensamente em tudo que ocorre e se relaciona a vida (mesmo que intrauterina) do(a) afilhado(a).
Após o nascimento muitas coisas acontecem e esse contato nem sempre permanece por circunstâncias de localização ou  diversos fatores.
Outras vezes há uma interpretação equivocada da função dos padrinhos e a estes se associa a obrigação de ser os grandes financiadores e que, por isso, devem dar os melhores presentes, arcar com despesas extras, etc. Nada tendo a ver com a ideia original, apenas uma tradição que se firmou com o tempo.
Diante desta errônea exigência muitos padrinhos fazem sacrifícios financeiros para corresponder ao esperado ou na dificuldade, alguns acabam abandonando a função, sentindo-se incapaz.
A aproximação dos pais com os padrinhos e vice-versa é primordial para o bom relacionamento e o bom desempenho destes papéis. Qualquer discórdia entre eles pode gerar prejuízo afetivo ao afilhado  sendo um empecilho para a sua continuidade.
A morte de um dos padrinhos, a falta de afinidade entre a madrinha e o padrinho, a separação do casal  também podem gerar problemas.
Algumas religiões, como o espiritismo, não admitem a existência de padrinhos visto que também não usam rituais religiosos, entre eles o do batismo. 
Ocorre também que, ao longo dos anos, há uma aproximação natural da criança ou uma afinidade com outras pessoas que parecem estar mais de acordo com a função de padrinhos do que os próprios. Algumas vezes os pais mostram-se enciumados com a afetividade ou a simpatia da criança aos seus padrinhos e afastam-na do convívio numa luta sentimental e muitas vezes até inconsciente. É comum padrinhos que extrapolam seus limites e se iludem com a ideia de serem os pais perfeitos e dos quais tudo é permitido, passando ao autoritarismo e criando conflitos com sérias consequências à criança.  
Enfim, escolher padrinhos é uma tarefa difícil, aceitar a função e corresponder ao esperado tanto quanto, tudo porque se pretende criar um laço afetivo que, na prática, só ocorre naturalmente ou que essas responsabilidades de acompanhamento, na verdade, são oriundas também de uma ordem natural, pessoal e sentimental. Vale lembrar que o batismo é um ritual apenas para a família que encaminhará o filho (enquanto pequenos) numa proposta religiosa que acredita e segue esse e outros sacramentos. Do contrário, não há necessidade de se fazer cobranças nem se encenar uma função a qual não se aceita ou não se vê como importante.
A de se considerar que nunca estamos sós, somos seres abençoados por Deus, por isso a vida segue naturalmente com ou sem padrinhos.